Saúde emocional e sua importância frente à pandemia

Dra. Elizabeth Barros –
Psicóloga do Centro de Combate ao Câncer

A pandemia de COVID-19 instalou uma crise esmagadora e surpreendeu a civilização humana, ao invadir rapidamente os territórios e se alastrar ao redor do mundo inteiro, gerando ameaças e grandes desafios à nossa existência. De maneira brusca, nos deparamos com as ameaças reais de um microorganismo “invisível”, que produziram tensão emocional e provocaram mudanças que repercutiram em múltiplas dimensões da vida de cada ser humano, ameaçando diretamente a independência, a autonomia e o senso de controle da própria vida da maior parte da população mundial.

De um dia para outro, fomos obrigados a adotar medidas de prevenção para evitar a contaminação e a disseminação do novo coronavírus, sem termos ideia da magnitude das decisões que tomávamos. O distanciamento social, o medo de contágio, a preocupação em perder um membro da família ou amigos, muitas vezes, foram sendo agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda, do emprego, pelas expectativas e planos de vida interrompidos. Repentinamente, passamos a conviver com a angústia produzida pelo bombardeio de notícias assustadoras, verdadeiras e falsas, e com os efeitos negativos do isolamento social, que geraram inseguranças e incertezas ao romper o estilo das interações sociais estabelecidas, fragilizando o senso do que é normal para a família e os relacionamentos interpessoais.

O confronto com a vulnerabilidade, imprevisibilidade e a rápida disseminação do novo coronavírus, elevaram os níveis de tensão emocional, com potencial para desencadear transtornos psicológicos. Pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) descreve que o número de pessoas com depressão aumentou de 4,2% para 8% entre os meses de março e abril de 2020, e que o de pessoas com ansiedade elevou de 8,7% para 15%. O estresse elevou também os níveis de irritabilidade, provocou alterações do sono, aumento do consumo de tabaco, de álcool e de outras substâncias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as respostas psicológicas são manifestações naturais, reativas à condição de mudança inesperada e aleatória. Entretanto, a direção da OMS faz importante alerta para o fato de que os efeitos danosos na saúde mental das pessoas frente à grave crise que vivemos, tem sido extremamente preocupante e chama a atenção dos governantes e sociedade civil para a necessidade de aumentar o investimento em serviços de saúde mental, por ser parte importante da saúde e bem-estar geral.

Resposta psicológica ao estresse

As pessoas lidam com situações estressantes de maneiras diferentes, com reações que são únicas. No entanto, é fundamental entender que a maneira como cada indivíduo lida com o estresse da pandemia de COVID-19 interfere no seu estado emocional, podendo torná-lo mais fragilizado ou fortalecido perante tais adversidades. Algumas pessoas respondem ao estresse com fortes emoções, que desequilibram o funcionamento psicológico e bloqueiam os recursos internos para lidar com situações adversas. Outras, tendem a reagir de maneira equilibrada e harmoniosa ao serem afetadas pelos mesmos fatores estressantes. O indivíduo que lida com o estresse de maneira saudável, é o que apresenta a característica de ser positivo, autoconfiante, hábil para tomar decisões e solucionar os problemas, capaz de construir e manter relacionamentos com outras pessoas, flexível para se adaptar às mudanças, tende a se recuperar de uma adversidade e de aprender coisas novas com a experiência dolorosa.

Fatores que interferem na resposta psicológica ao estresse da pandemia de COVID-19

  • Condições prévias de saúde física e mental
  • Dinâmica e estrutura familiar
  • Momento de vida
  • Situação financeira e laboral
  • Rede de apoio social e da comunidade
  • Sistema de suporte médico-hospitalar
  • Pessoas isoladas socialmente, idosos que residem sozinhos, portadores de necessidades especiais, usuários de substâncias psicoativas

Como a população tem reagido à quarentena?

Ao longo da crise causada pela pandemia, as pessoas foram passando por diferentes estágios e com necessidades psicossociais distintas. Inicialmente, muitas descrevem que ficar em casa e aderir ao distanciamento social, deu a sensação de estar de férias e protegidas de serem contaminadas pela COVID-19. No momento seguinte, elas começaram a interagir à distância, se comunicando por meios digitais, cantando ou tocando um instrumento musical nas janelas. Atualmente, percebo que elas estão desgastadas e fragilizadas emocionalmente diante dos índices alarmantes de pessoas infectadas e de óbitos, referindo terem a sensação de desamparo e não sabendo o que fazer para estabilizar esse desconforto emocional por tempo tão prolongado. Já se passaram cerca de 120 dias confrontando o temor do desconhecido, a ameaça de contrair a COVID-19, os conflitos gerados pela perda de entes queridos, a insegurança pela falta de medicações com eficácia comprovada cientificamente, e tantos outros questionamentos associados à disseminação da doença ao atingir grupos distintos, respostas imunológicas, dúvidas que têm intrigado até mesmo a comunidade médico-científica. Além disso, é preciso lutar para sobreviver financeiramente, ter que lidar diariamente com as perdas reais e simbólicas, organizar a rotina de filhos, de pais, de avós e, em meio a todas essas preocupações e incertezas, se preparar para o retorno gradual às atividades cotidianas perante a fase de flexibilização do isolamento social.

Sem dúvida, vivemos uma crise devastadora, que abrange questões pautadas em nossa essência humana. Quando as emoções estão elevadas, ocorre um desequilíbrio mental que pode afetar a maneira como pensamos, sentimos e agimos. A exaustão emocional interfere na capacidade de se lidar com o estresse, de se relacionar com os outros, na habilidade de resolver problemas, de realizar as funções diárias e de planejar o futuro. Contudo, é inevitável aprendermos a lidar com os fatores estressantes desencadeados pela COVID-19, ser prático e flexível para reconhecer que estamos diante de uma fase turbulenta, que as medidas sanitárias são necessárias para reduzir os riscos, impedir a disseminação do vírus e, principalmente, de entender que essa crise vai passar. Não podemos negar ou alterar tais acontecimentos, mas é possível transformar a maneira como reagimos a eles.

Estratégias para lidar com o estresse e equilibrar as emoções em tempos de pandemia

Proteja a sua saúde mental. Aqui vão algumas estratégias que poderão te ajudar a lidar com o estresse e equilibrar a saúde emocional em tempos de pandemia.

Esteja informado sobre os fatos relacionados à COVID-19 e reconheça quais são os riscos para si e para as outras pessoas. Compreenda e siga as medidas que impedem a contaminação do vírus, porém evite o excesso de informações e os rumores.

Fique atento aos sinais que possam sugerir a contaminação de COVID-19. Saiba qual serviço deverá procurar para ser avaliado e obter tratamento médico, no caso de testar positivo.

Cuide de sua saúde emocional. Esteja aberto para o autoconhecimento e identifique as suas emoções, ações e reações que estão impactando a si mesmo e as pessoas ao seu redor. Entre em contato com os seus medos reais e fantasiosos. Reconheça a realidade de que vivemos uma pandemia, por isso, está sendo necessário adotarmos mudanças para a prevenção de contágio e de disseminação da COVID-19.

Pratique técnicas de relaxamento, meditação ou mindfulness. Exercite o corpo, caminhe, esteja sempre atento à sua respiração. Inspire e expire profunda e lentamente por algumas vezes, concentre a atenção no momento presente, respeite os seus medos e aceite o fato de que você e a humanidade estão vivendo uma realidade adversa, mas esteja certo de que o ciclo da doença vai passar. Ouça músicas, dance, faça leituras, estude um assunto de interesse, pratique algum hobby.

– Preserve as suas relações pessoais. Converse com os seus familiares e amigos. Compartilhe suas preocupações e sentimentos com pessoas em quem confia. Durante o período de distanciamento social, considere conectar-se por meio dos recursos da mídia social. As chamadas de vídeo facilitam manter essa proximidade.

– Exerça a solidariedade e tenha compaixão pelo outro que pode estar precisando da sua ajuda.

Conecte-se à sua espiritualidade e ative a sua força interior para trilhar esse momento difícil. Alimente a sua fé, faça orações e se coloque na presença do Sagrado que faça sentido para você.

– Atente para a sua alimentação. A ansiedade elevada, muitas vezes é compensada por meio do consumo exagerado de doces e de alimentos ricos em carboidratos, como uma tentativa de lidar com as emoções negativas. Esteja atento se você está tentando controlar a ansiedade desta forma e, procure fazer refeições mais saudáveis e equilibradas.

– Tente deixar de fumar. O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo, colocando o fumante em risco elevado para contrair a COVID-19.

Procure ajuda de um profissional em saúde mental. Existem vários serviços de teleatendimento psicológico disponíveis para dar suporte psicológico à distância e ajudá-lo lidar com as suas necessidades e dificuldades emocionais.

Referências Bibliográficas:

Jones D.S. History in a crisis – lessons for covid-19. N Engl J Med. 2020 Apr 30; 382(18):1681-83.

World Health Organization. Mental Health and psychosocial considerations during COVID-19 outbreak. July 9th, 2020.

https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/mental-health-considerations.pdf

Leave a reply